O livro O Peregrino, de John Bunyan, é um clássico mundial que já foi traduzido para mais de 200 línguas. Se a obra é bastante conhecida, o mesmo não pode ser dito sobre a situação em que foi redigida.
Bunyan se converteu em 1653 e esse fato passou a ser o assunto da cidade. Várias pessoas foram levadas a Cristo por meio do testemunho dele. Com a morte do seu pastor, a partir de 1655 Bunyan se entregou ao ministério da pregação. Seus sermões e escritos começaram a lhe dar notoriedade até que, em 1660, foi detido sob a acusação de pregar sem a autorização do rei da Inglaterra. Por essa razão permaneceu preso por doze anos e meio (1660-1672). Encarcerado, Bunyan teve apenas dois livros: a Bíblia e o Livro dos Mártires, de John Fox. Foi durante seu tempo na cadeia que escreveu O Peregrino.
A vida de Bunyan exemplifica o poder do testemunho cristão. Ele seguiu à risca o que Jesus recomenda a todos nós: “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Apocalipse 2.10). Este versículo aborda os temas da fidelidade a Deus (Sê fiel), da recompensa que os fiéis receberão (coroa da vida) e da constância no testemunho (até à morte).
Para nós, é inspirador saber que José honrou a Deus no Egito; que Jó não se revoltou contra o Senhor apesar das desgraças que lhe sobrevieram; que Daniel se manteve fiel diante dos leões; que Davi não temeu Golias; que Paulo combateu o bom combate, completou a carreira e guardou a fé; que João, até em Patmos, foi a boca de Deus; que Lutero manteve suas convicções diante do imperador Carlos V; que Spurgeon criticou os pastores que questionavam a inspiração da Bíblia; que Dietrich Bonhoeffer foi destemido na Alemanha nazista. Se eles conseguiram, nós também podemos conseguir. O Deus deles é o nosso Deus. Os recursos que utilizaram estão ao nosso alcance. Mas, atentemos: eles conseguiram ser fiéis em situações extremas porque aprenderam a depender do Senhor ao longo dos anos, cultivaram a piedade no transcurso da vida e, assim, tiveram força para resistir frente aos inimigos da fé.
A Bíblia diz que o Senhor abençoou a casa de Potifar por amor de José (Gn 39.5). Aliás, ele foi contratado porque Potifar viu que o Senhor era com ele e que tudo prosperava em suas mãos (Gn 39.3). José era um mordomo responsável e íntegro, a ponto de não dar espaço à paixão infame da esposa de seu patrão. Como é possível não sucumbir em um ambiente tão corrompido? De que maneira ele pôde perdoar seus irmãos mesmo que tenha sido vendido por eles? Com certeza, o êxito de José se explica sob a mesma condição do de Jó – que era “homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal” (Jó 1.1); Daniel – que “três vezes por dia, se punha de joelhos, e orava, e dava graças, diante do seu Deus, como costumava fazer” (Dn 6.10); Davi, que, cuidando das ovelhas, tendo enfrentado “tanto o leão como o urso”, foi livrado de ambos pelo Senhor (cf. 1 Sm 17.34-37); Paulo, que enfrentou tantas adversidades “no Espírito Santo” e “no poder de Deus” (cf. 2 Co 6.4-10); João, “por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus” (Ap 1.9); Lutero, que havia descoberto o tesouro da justificação pela fé; Spurgeon, que se abastecia na oração para defender que não existe comunhão fora da verdade; e Bonhoeffer, por acreditar no valor bíblico da comunhão dos santos.
Para ser fiel até a morte é preciso se preparar durante a vida. Para sustentar que o Senhor é Deus em meio às pressões faz-se necessário cultivar as disciplinas espirituais. O soldado se prepara para a guerra nos tempos de paz. A Timóteo, que não devia se envergonhar “do testemunho de nosso Senhor”, Paulo disse: “fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus” (1 Tm 2.1). Fortaleçamo-nos nessa bendita graça para dar testemunho de nosso Senhor.
Pr. Marcone Bezerra