Neemias é quase sempre associado à reconstrução dos muros de Jerusalém. Sua maior obra, porém, não foi essa, mas a reforma espiritual que ele e Esdras lideraram.

 Neemias viveu na Pérsia tempos depois do exílio israelita na Babilônia, ou seja, no 5º século antes de Cristo. Era copeiro do rei, portanto, homem íntegro, de confiança e capacitado, uma vez que o copeiro era uma espécie de confidente do rei. Estando em Susã (Ne 1.1), no ano 445 a.C., tomou conhecimento da deplorável condição de Jerusalém e de seus moradores (1.2-3). Impactado (v.4), buscou a orientação celestial. O Senhor então o conduziu à obra de restauração material da cidade e restauração espiritual do povo. Convicto, ele motivou seus irmãos, enfrentou inimigos inescrupulosos e adotou uma série de medidas. Tudo isso visava reorganizar a comunidade israelita segundo os termos da aliança com o Senhor.

Da atuação de Neemias, que começou na reforma material de Jerusalém e terminou na reforma espiritual do povo, podemos destacar os seguintes princípios e ações:

  1. A busca de direcionamento divino (1.4-11; 2.4).Diante do impasse sobre o que fazer após saber da condição de Jerusalém, Neemias buscou o céu para saber o que fazer na terra. Frente a qualquer dilema, devemos proceder de igual modo.    
  2. A convicção da direção divina (cf. 2.8b, 12 e 18).Ele se apresentou ao rei para a difícil missão em Jerusalém somente após estar certo da vontade de Deus.
  3. A capacidade de motivar (2.17-18), delegar tarefas (cap. 3), supervisionar (4.16-23) e organizar o repovoamento (cap. 7). Por mais habilidoso que uma pessoa seja, ela precisa de ajuda. Neemias soube delegar tarefas e acompanhar as pessoas.
  4. A firmeza contra os adversários (2.19-20 e 6.1-14). A convicção de estar cumprindo a vontade de Deus lhe permitiu ter a firmeza necessária contra os inimigos.  
  5. A dependência de Deus aliada à vigilância (4.9). Além de começar bem, precisamos continuar bem. Para isso devemos depender de Deus em todo tempo, em oração, com humildade e sem perder o foco.
  6. O conhecimento da lei de Deus para refutar o inimigo (6.10-11).A palavra de Deus é lâmpada para nossos pés e luz para o nosso caminho. Só conseguiremos interpretar corretamente a realidade à nossa volta e responder aos inimigos da fé se estivermos atentos à verdade bíblica.
  7. Sacrifício pessoal para eliminar o problema econômico e social do povo (cap. 5). Por temor a Deus e compaixão das pessoas, Neemias abriu mão do direito do governador (v.14) e tirou recursos do próprio bolso. O exemplo dele motivou outros a agir de igual maneira.
  8. Com auxílio de Esdras, reconduziu o povo à aliança (Ne 9.38).Isso começou com a leitura (8.3) e explicação da lei de Deus (8.7). Em seguida, houve celebração (8.12), a festa dos tabernáculos (13-18), jejum coletivo (9.1) e confissão de pecados (9.2). Repovoada a cidade, houve a “dedicação dos muros”, acompanhada de grandes sacrifícios “pois Deus os alegrara com grande alegria”. De longe, ouviu-se o júbilo de Jerusalém (12.43). A reforma espiritual havia sido iniciada. E durou pelo menos 12 anos.

Neemias foi verdadeiramente usado por Deus para empreender a reforma tanto física quanto espiritual. Mas ele, como todos nós, não era perfeito. O capítulo 13, verso 25, mostra que cometeu erros. Perfeito mesmo só existe um: Jesus Cristo.

Humilhemo-nos na presença de Deus e, pelos méritos de Jesus, renovemos as forças físicas e espirituais. “Grande e extensa é a obra, e nós estamos no muro mui separados, longe uns dos outros” (Ne 4:19), mas “o Deus dos céus é quem nos dará bom êxito” (Ne 2:20).                   

Pastor Marcone Bezerra